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quinta-feira, 1 de março de 2012

Finitude

Não é fácil entender nem os mistérios da vida e nem os mistérios da morte. Em qualquer circunstância, é importante destacar o medo implícito do desconhecido. O que resta, como foco de atenção, é administrar a carência destas imprevisões.
Para que essas "surpresas" da vida sejam, de certo modo, devastadoras é indispensavel uma aproximação prévia dessas questões existenciais.
Nesse ponto é fundamental, sobretudo, em relação ao acontecimento de morte uma reflexão profunda e significativa a cerca destes entraves da vida humana.
No curso da vida, todos sofremos separações, rupturas, perdas e abandono. Invariavelmente desapegar-se, deixar para traz, implica um custo emocional profundo, cuja intensidade, duração e desorganização vital variam dependendo da relação afetiva e mundana com as pessoas mais próximas.
A morte é uma parte da própria vida, sua etapa final, da qual não podemos fugir e da qual ninguém pode nos livrar. Como destaca Martin Heidegger, é necessário considerar a morte não como uma certeza indefinida, mas uma possibilidade existencial a todo instante. Nesse sentido, pode-se dizer que a morte e a vida coexistem a todo momento.
Nessa caminhada inseparável entre a vida e a morte cabe a nós a reflexão construtiva acerca da finitude. Será que em algum momento de nossa existência oferecemos a nós mesmo uma maior compreensão dessa condição existencial? Há espaços nos ossos lares, bem como nos meios sociais que frequentamos, diálogos acerca da morte e do processo de morrer?
Quando os deparamos com a fragilidade física de nossa condição humana, desenvolve-se um cenário inseguro, principalmente, quando nos percalços da vida, não se proporciona a expressão das emoções que envolvem finitude. Nesse caminha muitos questionamentos e dúvidas podem aparecer. A difícil tarefa da despedida mostra nossas fraquezas e nossa inautenticidade de sermos para a morte.
Diante da consciência da possibilidade da morte de si mesmo ou de alguém muito querido há uma necessidade de reorganizar sentimentos e nesse processo são importantes os laços afetivos como dispositivos de cuidado.
Dessa maneira, ao longo do percurso da vida, vive-se com a pretensão da imortalidade e quando a fatalidade supera os anseios existenciais define-se a situação vivenciada como absurda e questionável. É compreensível que essas fatalidades surpreendam e desorganizem a textura psicológica. Acredita-se que nesses momentos é preciso uma auto-reflexão relativa ao seu lugar no mundo e nas inter-relações familiares e sociais. Não se pode deixar de destacar que a busca para o alivio desse sofrimento é configurada como algo individual, mas amparada socialmente. E nesse propósito, carda um poderá reencontrar o sentido da vida. O que necessita, como seres vivos, é reconhecer o ciclo vital para que se possa admirar a vida. É fundamental, pois, superar a consciência tardia do próprio entardecer.