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quinta-feira, 31 de maio de 2012

O real tamanho das coisas

Algo que nos deparamos em quase todos os momentos. Agradeço às pessoas que mais colocam minha paciência à prova. Há algo bem mais importante do que ser flexível: a necessidade urgente de se aprender com as pessoas, não com frases de efeito ou conselhos melosos, mas aqueles que nos fazem perder a paciência, explicar varias vezes o que simplesmente discordam.
O problema maior é que, quando estamos no centro de uma situação estressante, não conseguimos enxergar direito, nem soluções e, muito menos, pessoas. Os detalhes cegam nossa capacidade de analize da situação. Só quando nos mergulhamos novamente em nosso interior, somos capazes de nos questionar: "o que eu tenho que aprender com isso?" Não se trata de ficar filosofando, apesar de que filosofar é preciso... Essa questão é crucial para nos livrarmos da forma como vemos o problema - algo bem mais problematico do que o conflito em si.
Aprender é descobrir o que já se sabe. Praticar e demonstrar o que se sabe. Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você. Todos são nossos professores, basta que estejamos dispostos a entender a aula. Quando isso acontece, a sensação é muito boa.
É bom entender uma questão difícil. Logo, ela diminui o aspecto de gigantismo e volta ao tamanho normal. E a gente, não se sente menor diante dela, por que também voltamos ao tamanho normal. E frente a frente, em situação de igualdade, é mais fácil ter a vista limpa. Manter o tamanho real das coisas é ser flexível.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Amigo

Mesmo no seu momento de maior solidão, quando a miseria parece ter destruido sua vida, transformando-a em retalhos soltos, sempre haverá alguem que, mesmo na lembrança estará ao seu lado.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A dor que dói mais


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Um tapa, um soco, um chute, doem, Dói bater com a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, cólica dói. Mas o que mais dói é saudade.
Saudades de um irmão que foi morar longe, saudades de um lugar de infância, saudades do gosto de alguma comida, saudades de alguem da família que se foi. Saudades de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudades de uma cidade que visitou. Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e ate da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se que estavão lá. Você poderia ir para o escritório e ela para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia inteiro sem vê-la, ela sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã... Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguem sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber se ele continua gripando no inverno. Não saber mais se ela continua pintando o cabelo de vermelho. Não saber se ela ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros,se ele continua preferindo Pepsi, se ela continua sorrindo com aquele jeitinho meigo, se ela continua dançando, se ele continua surfando, se ela continua lhe amando.
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma musica, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele esta com outra e, ao mesmo tempo, querer. É não querer saber se ela esta feliz e, ao mesmo tempo, querer. É não querer saber se ele esta mais magro, ela mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, ainda assim, doer.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Certo é certo!


De vez em quando é bom parar para pensar na natureza e nas suas criações. Os animais, tão chamados irracionais, lutam pela sobrevivência, tem uma vida dura, mas não trapaceiam, não mentem e muito menos esconde suas ações, seja elas quais forem, de seu grupo. Ou eles seguem a regra imposta pelos seus ou vão embora, criando um novo grupo, com novas regras, no qual fica quem quiser se adaptar.
O homem, o "racional" é uma das mais sublimes criações, possui capacidade ilimitada, constroi casas e coisas para seu conforto, inventa remédios, cria e destrói. Vai alem da imaginação da maioria e, dizem, ja foi ate a lua! Esse mesmo homem tão inteligente, aprende rápido a "emburrecer". Acredita que pode burlar as regras de convivência que ajudou a criar, mente, maltrata e faz, dissimuladamente, coisas que seriam condenadas por seu meio, coisa que não devia fazer.
O que é certo é certo. Lei é lei então, por qual razão o "esperto" engana, rouba, mata, e de um modo geral, caminha contra esses princípios?
Será culpa de Adão e Eva? Aqueles que quebraram a primeira regra e nos ensinaram o gostinho de errar? Jogar lixo na rua é tão errado quanto mentir ou roubar. Tomar o que não lhe pertence, enganar, iludir e torturar são formas de descumprir o "contrato" que assinamos ao aceitar viver em sociedade. Quando o Regime Militar de 1964 pregava: "Brasil, ame-o ou deixe-o", estava apenas usando a frase certa no contexto errado. A grande questão é: "sociedade, aceite-a ou mude-se".
Todos devemos entender que a convivência  requer cuidado, requer respeito. Querer o certo para si, buscar seus direitos, é dar ao próximo a chance de querê-los também. Não é preciso "pisar em ovos" ou tratar o outro como se ele fosse de porcelana, mas trata-lo de modo como gostaríamos de ser tratados. Respeitar limites e regras. Dar o que gostaria de receber.
Desviamos as virtudes que nos foram dadas e as transformamos em "pecados". Somos preguiçosos, invejosos, arrogantes, sem parar para pensar que somos iguais em capacidade e, se deixarmos de lado os maus hábitos, seremos senhores de si, seremos capazes de agir, de buscar, de conquistar o que desejamos, desde que não deixemos de lado a boa fé, o bom humor, a boa vontade e a compreensão e respeito mútuos.
Começando dentro de casa, dando exemplo e não "escorregando", construiremos um mundo do qual nos orgulharemos e no qual viveremos em paz.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Finitude

Não é fácil entender nem os mistérios da vida e nem os mistérios da morte. Em qualquer circunstância, é importante destacar o medo implícito do desconhecido. O que resta, como foco de atenção, é administrar a carência destas imprevisões.
Para que essas "surpresas" da vida sejam, de certo modo, devastadoras é indispensavel uma aproximação prévia dessas questões existenciais.
Nesse ponto é fundamental, sobretudo, em relação ao acontecimento de morte uma reflexão profunda e significativa a cerca destes entraves da vida humana.
No curso da vida, todos sofremos separações, rupturas, perdas e abandono. Invariavelmente desapegar-se, deixar para traz, implica um custo emocional profundo, cuja intensidade, duração e desorganização vital variam dependendo da relação afetiva e mundana com as pessoas mais próximas.
A morte é uma parte da própria vida, sua etapa final, da qual não podemos fugir e da qual ninguém pode nos livrar. Como destaca Martin Heidegger, é necessário considerar a morte não como uma certeza indefinida, mas uma possibilidade existencial a todo instante. Nesse sentido, pode-se dizer que a morte e a vida coexistem a todo momento.
Nessa caminhada inseparável entre a vida e a morte cabe a nós a reflexão construtiva acerca da finitude. Será que em algum momento de nossa existência oferecemos a nós mesmo uma maior compreensão dessa condição existencial? Há espaços nos ossos lares, bem como nos meios sociais que frequentamos, diálogos acerca da morte e do processo de morrer?
Quando os deparamos com a fragilidade física de nossa condição humana, desenvolve-se um cenário inseguro, principalmente, quando nos percalços da vida, não se proporciona a expressão das emoções que envolvem finitude. Nesse caminha muitos questionamentos e dúvidas podem aparecer. A difícil tarefa da despedida mostra nossas fraquezas e nossa inautenticidade de sermos para a morte.
Diante da consciência da possibilidade da morte de si mesmo ou de alguém muito querido há uma necessidade de reorganizar sentimentos e nesse processo são importantes os laços afetivos como dispositivos de cuidado.
Dessa maneira, ao longo do percurso da vida, vive-se com a pretensão da imortalidade e quando a fatalidade supera os anseios existenciais define-se a situação vivenciada como absurda e questionável. É compreensível que essas fatalidades surpreendam e desorganizem a textura psicológica. Acredita-se que nesses momentos é preciso uma auto-reflexão relativa ao seu lugar no mundo e nas inter-relações familiares e sociais. Não se pode deixar de destacar que a busca para o alivio desse sofrimento é configurada como algo individual, mas amparada socialmente. E nesse propósito, carda um poderá reencontrar o sentido da vida. O que necessita, como seres vivos, é reconhecer o ciclo vital para que se possa admirar a vida. É fundamental, pois, superar a consciência tardia do próprio entardecer.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Uma Águia chamada circunstâncias

A Águia empurrou gentilmente seus filhotes para a beira do ninho. Seu coração se acelerou com emoções conflitantes, ao mesmo tempo em que sentiu a resistência dos filhotes a seus insistentes cutucões! Por que a emoção de voar tem que começar com o medo de cair? Pensou ela ...
O ninho estava colocado bem no alto de um pico rochoso. Abaixo, somente o abismo e o ar para sustentar as asas dos filhotes. E se justamente agora isso não funcionar? Ela pensou! Apesar do medo, a Águia sabia que aquele era o momento. Sua missão estava prestes a se completar, restava ainda uma tarefa final: o "empurrão".
A Águia encheu-se de coragem. Enquanto os filhotes não descobrirem suas asas não haverá propósito para a sua vida. Enquanto eles não aprenderem a voar, não aprenderam o privilégio que é nascer Águia. E então, um a um, ela os precipitou para o abismo. E eles voaram!
Às vezes, nas nossas vidas, as circunstâncias fazem o papel de Águia. São elas que nos empurram para o abismo. E quem sabe não são elas, as próprias circunstâncias, que nos fazem descobrir que temos asas para voar. O simples medo de tentar nos priva de conquistas maravilhosas. Pense nisso.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Ainda a felicidade

A felicidade, se é que se pode ser feliz com coisas simples, tem sido um paraíso impossível. Tão perdido quanto a terra do nunca ou um tesouro de piratas.
Estou convencido de que a satisfação e a felicidade são animais domésticos embora criados soltos no vasto campo da alma e do corpo, mas são bravios. De vez em quando, mesmo fartos de agrados, saltam e agarram o pescoço. E a alegria de viver que parecia tão próxima de repente foge pela porta dos fundos. Ninguém vence a tristeza como nos anúncios de um apartamento à venda, com duas boas vagas na garagem, uma área de serviços, varanda de frente para o mar... Ora, se fosse assim, seria fácil viver. As coisa mágicas, e justamente por que são irreais, são encantadoras. Quem sabe a felicidade vive por traz de uma arvore e a gente não nota? Como a historia de uma pescadora de caranguejos, o rapaz saiu de traz de uma arvore dançando, e não encontra a parceira. Volta, então, para sua arvore. Lá, escondida, uma jovem salta num abraço alegre e o leva para casa, onde foram felizes para sempre. Ou como lembra o filósofo Luis Felipe Pondé, e ele tinha razão: a busca enlouquecida da felicidade, um dia deixará as pessoas tolas. Ficamos tolos? Ou vencemos e somos felizes? Quem sobreviver a essa dura olimpíada da felicidade? Aqueles que se imaginam fortes, por isso exibem o riso na arena social, como se a alguém Deus tivesse concedido o direito de ser feliz sozinho? Onde eles estão, os felizes?
O homem sempre acreditou no sonho da felicidade. E que procurá-lo não seria inútil. Tanto que esta no preâmbulo da declaração de independência dos Estados Unidos e na declaração Universal dos Direitos Humanos. Mesmo assim esse homem, lá nos mil seiscentos e tantos anos, já sabia ser insignificante diante da vastidão do universo da grandeza de Deus para desejar tanto. No entanto, ele sonha o seu sonho impossível. Como uma chama desanimada nas sombras de sua alma cheia de medo.
Outro dia, vi uma frase do do livro 'Felicidade, uma historia' do escritor Darrin McMahon - a frase: 'Só a felicidade torna as pessoas verdadeiramente mais humanas'. Mas ele desconfia que o humano, mesmo sendo a plenitude, não é suficiente para ser feliz. Ninguém tem certeza. Ninguém. Nem os filósofos cristãos. Parece que a virtude teria sido o melhor caminho. Se um dia o homem não tivesse duvidado da virtude. Por isso a perdemos. Desgraçadamente.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Revolução e Razão

René Descartes e Immanuel Kank, dois dos mais poderosos pensadores da humanidade, simbolizaram a maturidade intelectual da humanidade. o Francês Descartes viveu entre o final do seculo XVI ate a metade do seculo XVII e é conhecido como pai da filosofia moderna. O alemão Kant viveu a maior parte do seculo XVIII e morreu no inicio do seculo XIX.
Bastante influenciado pelo pensamento renascentista e ainda muito ligado a filosofia medieval, Descartes foi um defensor intransigente da clareza, do rigor e da disciplina metódicos. A dúvida universal, ponto de partida de uma obra, instituiu-se como mérito e critério da verdade. Para chegar à possibilidade de conhecer, duvidou ate da própria existência, chegando assim à evidencia de uma verdade que não seria possível negar: o próprio pensamento. Daí o cogito "Penso, logo existo".
Nas suas "meditações", Descartes tentou demonstrar racionalmente a existência de Deus. O filósofo francês constatou que existe e sua existência lhe permitiu imaginar um ser perfeito. Como a perfeição não pode surgir da imperfeição, a noção de um ser perfeito não poderia surgir dele(Descartes) que é um ser imperfeito, mas de um ser perfeito. Como não poderia existir perfeição sem existência Deus, um ser perfeito, necessariamente existe.
A proposta cartesiana é revolucionária porque chegou à conclusão utilizando-se apenas da razão para demonstrar a existência de Deus. Ele dedicou as "meditações" a um professor-decano da faculdade de Teologia da Universidade de Paris, não sem antes reafirmar que a existência de Deus 'deve ser determinada pela filosofia, e não pela teologia.
O que Descartes iniciou no seculo XVII, Kant deu continuidade mais profunda no seculo XVIII, quando disse no prefácio de "A critica da razão pura" que "não há um único problema metafísico que não encontre sua solução, ou pelo menos a chave de sua solução". O filósofo alemão mostrou que muitos fenômenos do pensamento requer explicação. A nenhum deles Kant atribuiu a causa externas independentes, mas às leis essenciais que regulam os próprios movimentos do pensamento, expressando com clareza e exatidão o caráter autônomo da razão, limitada pela sua própria natureza fixa que se desenvolve no tempo conforme a sua própria essência.
Os dois grandes pensadores confiavam que seria possível à razão ordenar o mundo e resolver todas as dúvidas e ambiguidades da filosofia e da história. A consequência imediata da proposta cartesiana, por exemplo, foi uma mudança de conhecimento crítico radical, pois rompia com os princípios do conhecimento critico medieval, segundo os quais a razão é um instrumento insuficiente para se chegar à verdade, somente revelada pela Bíblia e pela Providência.
Descartes e Kant não se afastaram muito do que diria um padre do período medieval. Em momento algum eles negam a existência de Deus. Afirmam e reafirmam a sua existência. A diferença em reação a qualquer filósofo do medievo é a forma como justificam a existência dele.   O Jornal de Hoje

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Dos ressentidos

Um ano é muito tempo para agradar e desagradar. É suficiente para nascer os filhos do ressentimento. Sem eles seria impossivel ter o retrato completo com as marcas do estilo. Nos governos os satisfeitos são alegres, cheios de vida, porem imprestaveis. Completam a cena, mas não a torna rica das verdades indispensaveis ao desenho do rosto. O riso só castiga o costume quando é de ironia.
Com um ano, não. Todas as flores brotam, arvores dão frutos. Dos dias, de tão públicas; das noites, tão discretas; das madrugadas, de tão furtivas. Não há como esconde-las ou disfarça-las. Elas saem no mais fundo dos pântanos como foram concebidas. Soltam o doce perfume da satisfação ou a essencia mal-cheirosa que a todos avisa. O ressentido não esquece o que lhe fere a alma. A palavra ou o silencio, tanto faz. É prisioneiro da própria magoa e do desgosto, a sonhar não em ser livre, mas em ferir aquele que lhe feriu. Já dizia William Shakespeare 'Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra'.
Há no ressentido alguma força estranha que o empurra ate a beira do precipício, até a borda do despenhadeiro, quase ali, na vertigem do salto. O ressentimento é como se fosse um espasmo, uma forte atração. É preciso expelir, esvaziar-se, livrar-se do fermento que fermenta e da náusea que enfastia e amarga a boca. O ressentido tem a maldição das almas inconformadas e das carnes feridas. E por isso fala ou escreve como forma de por as compressas que apresentam a dor das feridas abertas no peito.

E as palavras têm vida. Com o tempo, não é possível dize-las ou escrevê-las sem as tintas da emoção. Nas palavras do ressentido o não dito nasce entre as linhas do dito e se revela como sua força suave e estranha. Mesmo o mais discreto e o mais cuidadoso dos ressentidos confessa, quando escreve, seu ressentimento. Revela-se como quem derrama sobre as palavras o leite talhado das magoas azedas e que fechou no mais intimo do sentimento humano, no ultimo e escuro salão da alma.
De sua tessitura, como se nascida das tramas, de fio a pavio, brotam as vinhas da ira. Basta o olho perscrutador e curioso. O olho a colear, sinuoso e vivo, como se seguisse a presa. As palavras são reveladoras da alma, mesmo aquelas aparentemente tão banais.
Por fim, que se saiba para sempre: o ressentido, se refinado no seu azedume civilizado, maneja com destreza a dissimulação. Seu disfarce é o riso que inventa como uma máscara. Nada foge, nem dos olhos, para ferir o silêncio com o qual resguarda o ressentimento ao fazê-lo chegar ao seu destinatário. E, se é inevitável, o faz com todo o zelo. Num misto de cuidado e requinte.  (VS) O Jornal de Hoje

Ô, tempinho besta

Sinto pena do homem comum brasileiro, a mercê do noticiário repetitivo e doméstico numa época de globalização. Coitado de quem acorda cedo e só tem a sintonia da TV aberta para buscar informação. O Brasil vive uma crise não só moral, mas também intelectual e educativa. A nação bregou geral.
Como diria Raul Seixas, eu tô achando tudo isso um saco. A corrida pela audiência desqualificada, puramente quantitativa, só dão importância a números. As emissoras de rádio e TV (e alguns blogs também) gastam o tempo com notícias policiais, a maioria com fatos provincianos, que não tem nada a ver com nosso modo de vida ou nossa cidade.
Que diabo me interessa uma colisão de 2 carros em Niterói, um assalto a uma farmácia em São Paulo, uma fuga de presos em Teresina, um incêndio de pequenas proporções em Mossoró, uma briga de marido e mulher em Juiz de Fora, estando eu em Natal?

E os falsos mitos culturais, as celebridades incultas e belas, os chulos programas de auditório, os realities shows com seus analfabetos aprisionados na casa do nada, os contos de vigário na oratória dos pastores, os craques forjados nas mentiras dos estádios, os políticos nivelados na mesma régua da corrupção.
Eu, sinceramente, prefiro o ontem do que o hoje. Tempo bom era aquele que Lula era o tecnico do Santos de Pelé; Michel era uma bela canção dos Beatles; Big Brother era ditador comunista num livro de George Orwell; e pinheirinho era apenas uma decoração natalina.
Quando eu era mais novo, ouvia Luíza mas não a que estava no Canadá, e sim uma musica de Ton Jobim, o Canadá para mim era só um país distante e frio; Twitter era uma peça de som de carro; moicano era um índio americano nos filmes de faroeste; Eloá era a esposa de Jânio Quadros.  (AM) O Jornal de Hoje

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Em Busca da Felicidade


De uns tempos pra cá, tenho prestado atenção à grande angustia em busca da felicidade. Nem tão profundamente assim que fizesse um cronista ser capaz de escrever um tratado em torno do desejo de ser feliz, nem tão pouco a ponto de perdê-lo de vista. Os recortes, revistas, livros e entrevistas vão caindo no poço desta curiosidade de repórter e só agora vejo o quanto tem sido intenso esse sonho. Talvez maior que o dinheiro e a glória, matérias de que são feitas as vaidades humanas.
Lembro de um artigo de Roberto Pompeu de Toledo, ali na ultima página de uma edição da Veja, ainda em março de 2010, apontando um toque de crueldade dos pais quando esperam dos seus filhos que eles sejam felizes. Como se fosse fácil. Não são conscientes do peso desse desejo, justificável por todos os motivos. O que não notão é quanto pode ser difícil ser feliz, com ou sem uma boa herança. Principalmente quando se sabe que a felicidade tem sempre algo de muito pessoal e angustiante. 
Bertrand Russel no seu texto famoso 'A Conquista da Felicidade' que circulou no Brasil mais facilmente a partir do inicio dos anos 80, imaginou que os animais irracionais seriam mais felizes que os humanos na medida em que precisavam apenas de uma 'boa saúde e bastante comida'. Ora, se fosse assim todas as pessoas bem de vida seriam felizes. E os ricos e muito ricos não se suicidariam. Nem tomariam barbitúricos.

Para Russel, talvez as horas de trabalho sejam tristes. Tão tristes que o pobre ser humano, ao invés de dedicar ao sono ou ao descanso seu ócio, prefere a agitação do lazer e da diversão. Como não bastasse a tristeza dos dias de luta pela sobrevivência, Russel chega a afirmar  no sexto capitulo - seria um filósofo moderno, mas supersticioso? - que a inveja é 'uma das mais poderosas causas da infelicidade'. Para ele, uma paixão humana profunda, perversa, a florescer com o fel na própria alma.
Uma coisa parece certa: o homem busca a felicidade desesperadamente. Quem afirma é André Comte-Spoville, ícono da moderna filosofia francesa, na sua conferência célebre pronunciada em 1999. Talvez a solução ideal para esse homem seja vencer o desafio de inventar a pílula da felicidade e toma-lá todas as manhãs. Mas, ressalva, com o mesmo humor e genialidade: talvez com alguns dias já não fosse suficiente. É que, às vezes, a felicidade vai embora levada pela monotonia de dias sempre iguais.
É então que ele conta a pequena história do encontro de André Malraux com um velho pároco. O filósofo existencialista perguntou ao humilde confessor o que ele diria a alma humana depois de tantos anos ouvindo os segredos maiores e mais íntimos que a ninguém mais seria confessados. E o padre respondeu: 'As pessoas são muito mais infelizes do que se imagina'. Talvez Camus tivesse razão: 'Os homens morrem e não são felizes'. Mesmo que vivam a procura-la. Calma ou desesperadamente. (VS) O Jornal de Hoje