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sexta-feira, 4 de maio de 2012

A dor que dói mais


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Um tapa, um soco, um chute, doem, Dói bater com a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, cólica dói. Mas o que mais dói é saudade.
Saudades de um irmão que foi morar longe, saudades de um lugar de infância, saudades do gosto de alguma comida, saudades de alguem da família que se foi. Saudades de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudades de uma cidade que visitou. Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e ate da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se que estavão lá. Você poderia ir para o escritório e ela para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia inteiro sem vê-la, ela sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã... Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguem sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber se ele continua gripando no inverno. Não saber mais se ela continua pintando o cabelo de vermelho. Não saber se ela ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros,se ele continua preferindo Pepsi, se ela continua sorrindo com aquele jeitinho meigo, se ela continua dançando, se ele continua surfando, se ela continua lhe amando.
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma musica, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele esta com outra e, ao mesmo tempo, querer. É não querer saber se ela esta feliz e, ao mesmo tempo, querer. É não querer saber se ele esta mais magro, ela mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, ainda assim, doer.

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